Referência na arte-educação do Brasil, Ana Mae Barbosa nasceu no Rio de Janeiro. Mas aos três anos foi para o Recife, onde se formou enquanto gente e profissional. Ana se pronuncia pernambucana, porque a gente pertence ao lugar onde cria raiz. Numa entrevista à Revista Continente, Ana Mae falou dos preconceitos sofridos na vida pessoal e na profissão por um simples detalhe: sua autenticidade. “A pior coisa que eu vivi e não consegui reagir foi quando dei uma palestra em São Paulo e ao terminar alguém veio a mim e disse: ‘É incrível que você, com esse seu sotaque, fale coisas tão importantes’. Alguma coisa me bloqueou e eu não consegui responder...”, contou Ana ao repórter.
Passei por situação parecida. Uma única vez. Por isso, de tão surpresa, não reagi da maneira que gostaria – ou deveria. Alguns velhos e novos colegas e eu comíamos sanduíche e batata frita, numa madrugada qualquer, depois de sair duma boate, no Recife. Todos na mesa eram da capital. Menos eu. Quando perguntada se era também do interior, uma das meninas respondeu da forma mais infeliz e patética que já ouvi: “Olha pra mim e vê se tenho cara de gente do interior!”.
Alguma coisa me bloqueou e eu não consegui responder à altura.
E como me arrependo!
O que faz alguém se sentir cosmopolita por morar 134 quilômetros depois de mim ou onde quer que seja? Gostaria de ter dito àquela criatura que, se acaso ela fosse a São Paulo, assim como Ana Mae Barbosa, poderia ser tachada de matuta. Queria que ela soubesse que, tendo a bunda daquele tamanho, se chegasse à Espanha, teria todas as chances de ser confundida com uma prostituta. Isso porque, infelizmente, em toda parte do mundo existem pessoas estúpidas, desavisadas e ignorantes como aquela menina.
Eu daria um conselho: que ela lesse um pouco sobre antropologia, cultura e comportamento. E se compreendesse o significado da teoria da relatividade, mudaria o discurso, porque a patente de recifense não faz dela uma pessoa mais ou menos civilizada. Já a leitura da bíblia ensinaria tal garota a amar e respeitar o próximo. Como gostaria de ter dito àquela menina tola o quanto a leitura nos dignifica. Aliás: como a leitura faz com que as pessoas evoluam a ponto de não pensar raso como ela. O conhecimento nos permite raciocinar. E gente que raciocina não fala as mesmas coisas que aquela menina tola.
Um dia, quem sabe, essa tal menina tola vai entender que o colorido da vida está nas diferenças. Na burca e no cabelo pintado de rosa. No jogo entre Sport e Náutico, na situação e oposição.
Quem sabe, quando descobrir sua autenticidade, ela dará as costas à alienação e enxergará as cores além desse mundo quadrado e daltônico onde faz questão (e não sei como consegue) de viver?
Myllena Valença
sexta-feira, 17 de abril de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
25 comentários:
ADOREEEEEEI! Acho que todas nós, "meninas do interior" já passamos por alguma situação parecida!Essa idiota aí precisa aprender muito...talvez seja daquele tipo: "muita forma e pouco conteúdo"! Bom vai ser quando a bunda dela cair... rsrsrrss.
Todo tipo de preconceito me tira do sério, mas um dos preconceitos que mais me indigna é esta história de “interior”. Moro em uma cidade do "interior" grande (Campina Grande - PB),com todas as comodidades que não existem em muitas capitais.
Mais uma face do preconceito social.
Muito bom seu texto Mylle..
bjooo..
Acho que o universo cosmopolita dessa menina se limita ao shopping center recife.
Só conhece o que está à sua volta. Não ousa em cruzar a fronteira da alienação.
Mas, pessoal, tenha dó. Ela não sabe o que diz!
Além disso, Mille, quem sabe um dia ela venha morar na região metropolitana do agreste?! kkkk
Outro dia adorei quando uma assessora de imprensa mandou um "vice" no fim da frase...deu vontade de correr pro Nordeste. Saudades da terrinha boa. Mas foi um "vice" tão bonitinho no fim da frase, que mais parecia um carinho, um cafune nos ouvidos. Eu até comentei com ela e pedi pra repetir o "vice". Esse país é tão grande e plural que pessoas como essas relatadas aqui, no Cacoetes, merecem viver no mundinho delas. Apagadas! Beijos, xerus, kisses...de todo o jeito que a língua humana e comunicativa permitir uma saudação. Glauco Araújo
Amei o texto. Principalmente porque a gente sempre se sente na pele da personagem principal, pois todo mundo já viveu uma história semelhante. Assim como você, não dei a merecida resposta nos infames, mas nem por isso deixo de me achar com razão. Tem nada não... de matutinho em matutinho o que já tem até de presidente da república... e não falo só daqui não... ahahahahahah
A gente vai conquistar o mundo dos cosmopolitas...
Bjo Mymy, como sempre você arrasou!
Mylle, bota pegado, pq quem vai dominar o mundo são os matutos. E diga a essa lambaia q eu sou matuto com orgulho. Rááááááááá
My, muito bom seu texto. Pena saber q tem gente que se acha mais que os outros pq nasceu em uma capital. tsc tsc tsc...as pessoas não são isso ou aquilo por conta do lugar q elas nascem, mas sim pelo sua personalidade, carater e educação...
Superficial, sem conteúdo e idiota!
Essa menininha é a pior das matutas. Ela nem deve conhecer o próprio estado (E olha que não eh caro viajar para o interior!). Acho que ele só tem dinheiro para comprar passe estudante e ir para o shopping.
Perfeito! Incrível como em pleno século XXI ainda existam pessoas tão ignorantes e estúpidas desse tipo. As meninas do interior têm mais conteúdo e descência do que uma menina da capital como esta....Parebéns querida pela ignorãncia e burrice em tudo o que fala!
Que menina ridícula e sem educação... para ela se achar a tal, deveria saber que pelo menos no Nordeste, as pessoas sabem respeitar a cultura do próximo, coisa que ela não deve nem saber nem o que é...
... É impressionante o nível de Ousadia, Futilidade e Ignorância em que as pessoas conseguem chegar; E acho que essas três palavras descrevem muito bem o comentário dessa "menina tola" (pra ser gentil com ela). O Brasil é formado por 5.564 municípios e deles somente 27 são capitais, trocando em miúdos, a cara dela não faz muita diferença diante do todo! Mas, com certeza ela não vai parar de passar rímel p/ pensar nisso né?! hahahaha...
Myllena, muito boa sua iniciativa de divulgar esse tipo de preconceito. Isso também é Utilidade Pública, e dever de jornalista!
Beijos querida
Adnna.
Bom, em primeiro lugar, informação não faz mal a ninguém. E em segundo, se essa for construtiva, educativa, de bom grado, humana e sensata, melhor será. Creio que essa dita "pessoa", se é que pessoa seja o substantivo "adequado" para descrevê-la, não foi feliz, tampouco coerente nos comentários inescrupulosos que proferiu. Preconceituosa, sobretudo consigo mesma, ela foi. Afinal, ela agrediu uma gama de brasileiros, incluindo ela própria, naturalizada nesse imenso Brasil. E são fulanos dessa estirpe que impiedosamente contribuem para o afunilamento da sociedade, na qual vivemos hoje, em nosso colossal país cravejado de injustiças de todas as naturezas. E outra, "cara de gente do interior" ela certamente não tem. Porque gente do interior é, acima de tudo, humana.Ela tem muito o que aprender ainda, não acham? Eita menina realmente tola essa.
Bem, tá mais do que claro que esta 'pessoa' nunca sentiu a essência de ter uma casa no interior do nosso estado. Que nunca sentiu o coração bater forte no São joâo de Caruaru, ou no Carnaval de Bezerros. Que não sabe oq é chegar ao destino final em apenas alguns minutos dentro de uma cidade pequena e aconchegante...é...infelizmente mtas pessoas pensam que ser da capital significa ter neurônios a mais, ou ser imune a doenças contagiosas...sabe? puf! Doce ilusão. Mas a vida ensinará a essa menina o peso do preconceito...seja qual for o tipo.
Boa! ;)
Essa menina é preconceituosa e o preconceito é causado pela ignorância, pela falta de conhecimento . Pessoas preconceituosas têm uma visão quadrada do mundo: pensam que todo cigano é ladrão, todo judeu é perverso... Uma dia essa menina tola aprende!
depois dessa tu deu o troco...
heheheh
bjusss!
Já passei quase pela mesma situação. Ser taxada de matuta por ser de Caruaru. O nome disso: pré-conceito, ou de forma mais bruta: preconceito. É ridículo como essas menininhas tolas chegam entram em comunidades como: ter preconceito é burrice no orkut só pra posar de intelectual. não sabem essas tolinhas que preconceito não é só com homssexuais, negros... Formar esteriótipos é coisa de gente burra. E ser burra é ter preconcito visse? ...
xero
Muitas pessoas do interior idealizam sair de sua cidade e ir morar na capital. Parte desse desejo está ligado ao consumismo, às novidades da modernidade, às opções de lazer, etc. Essa imagem do sonho logo se desfaz diante do contato com alguns "nativos" do Recife, principalmente na faixa dos 15 aos 25 anos, que só pensam em festas e futilidades.
Eu nunca consegui ter amizade com esse tipo de gente, primeiro porque sendo do interior, eu não tenho assunto pra conversar com essas pessoas, ora, do que é que eu vou falar? do shopping novo e inacabado de caruaru? da boate nova que abriu? do único botequim da cidade?, não sei se eu sou impaciente, retrógrado ou apenas um matuto mal informado. Certamente em Recife como em qualquer capital existem pessoas ótimas, que nasceram e cresceram lá no meio desse furdunço todo e ainda assim mantiveram seu bom caráter intacto . O fato é que nem todos são assim e que além de desmerecer pessoas com esse tipo de comportamento retrógrado, me enoja também e mais ainda aqueles que saem do interior vão morar na capital e são engolidos por essa ilusão ridícula. Não quero generalizar pois muitos que saem daqui com valores já definidos passam com louvor por qualquer período de provação naquela cidade, entretanto muita gente que não tem nada na cabeça é logo engolido e acaba se tornando um deles, fazendo parte da enorme massa de idiotas, incompetentes, fúteis, vulgares, falsos, imbecis, mas que se julgam donos da verdade, da beleza e da inteligência, e por que não dizer de algumas bundas prémoldadas caçadoras de maridos ricos.
Cultura é um valor que quem tem não vende e quem não tem não sabe onde comprar ...
Parabéns pelo Post, já passei por situações perecidas e foi muito divertido responder aos aculturados.
:)
Adorei My, você e suas palavras inspiradoras e que nos fazem refletir a beleza que há nos contrários da vida.
Puta que pariu!!!
Amiga, vou copiar esse texto e vou mandar pra todos os colegas recifenses pseudointelectuais q conheço. E se eles deixarem de lado a ignorancia e o orgulho de ser recifense ( ou de qualquer metropole de verdade que talvez essa menina tola do seu texto nunca teve oportunidade de conhecer) essa pessoa talvez entenda seu texto e vai dizer "que texto do caralho!" e eu direi, "é de uma grande jornalista, interiorana como eu."
Me orgulho de ser tua amiga, espero que essa pobre menina imbecil conheça seu blog e principalmente, entenda suas sábias palavras.( prontofaley)
PS: tira o detalhe sobre o tamanho da bunda. me magoou :p
A resposta foi dada a esse tipo de idiotice tão comum, infelizmente! Se ela bem soubesse como é bom ser matuto, talvez não tivesse perdido tempo falando o que não conhece. Ela deve ter passado a infância brincando no play do prédio com a babá e achar que passar o dia andando pelo shopping é um programão! Ou ainda, deve ter andando de velocípede no próprio quarto porque era mais seguro! Nunca soube o prazer de brincar na rua, de ser amiga de todas as crianças dos arredores de casa, de conversar potoca na calçada até altas horas, de andar a pé pela cidade porque tudo é mais próximo, de tomar caldo de cana com pão doce, ter boneca de palha (daquelas de feira), de catar tanajura e fazer a maior farra depois, de tomar banho de chuva, festa da boneca preferida, jogar bola na rua, de acender chuvinha e assar queijo de coalho na beira da fogueira... Ah se ela tivesse vivido isso! Ela entenderia que não há nada de ruim em ser matuto, pelo contrário!
Beijo grande, amiga!
Uma bela noite, alto astral, bandas tocando, pessoas decentes, inteligentes, felizes, em sincronia total. Lembro muito bem do dia 31 de janeiro... Quando apareceu esta criatura, a receptividade foi perfeita e, apesar de não conhecê-la e nem tê-la convidado para participar da festa, ela foi muito bem tratada por todos nós, do interior! Fomos muito educados com este BICHO DO MATO...Isso mesmo. Porque o comportamento humano é o que designa o caráter do homem. Mas a nossa missão é justamente essa, de entender e ressocializar este tipo de criatura para que isto não venha a corromper o nosso habitat. Somos convictos de que isto é atitude de uma pessoa amarga, solitária e que não sabe o que é respeito, afeto, amor e delicadeza. O conhecimento dela se limita a um simples esteriótipo que não condiz com o mundo dos sábios... Que pena!!! É triste compartilhar a vida sabendo que existe esta MENINA, por perto! TÃO TOLA, não sabe o que diz, menospreza ela mesma sem, se dar por conta, e o seu povo, o seu Estado. Era para estar PRESA e só se reintegrar à sociedade depois que aprender se tornar uma autêntica CIDADÃ, discernindo o que são princípios éticos, respeito mútuo e valorização da sua etnia e da terra onde pisa. Estas seriam as palavras de cidadania que daria pra esta MENINA TÃAAAAAAO TOLA.
Infelizmente esse tipo de comentário é extremamente comum no mundo da ignorância e da estupidez. A visão de mundo, a inteligência, a sensibilidade e a cultura das pessoas não se mensura pelo simples e insignificante fato de residir em uma capítal ou numa cidade do interior, seja aqui no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. O preconceito e a massificação cultural das pessoas se retrata em situações do cotidiano e demonstram a pequenez de caráter e a visão estreita em relação as pessoas. Sou carioca, mas tenho um orgulho tremendo de viver no nordeste e em caruaru há mais de 20 anos, pois foi aqui que construi minha vida profissional, foi aqui que vivenciei meu processo de amadurecimento, foi aqui que meus filhos nasceram e é daqui que tiro o meu ganha pão de modo digno e honesto, pois é aqui que sou valorizado e respeitado, assim como é aqui que tenho meus melhores amigos! Muito bom seu texto Myllena, muito bom mesmo! bj.
Postar um comentário