
Daria qualquer coisa para sentir novamente a paz que aquele silêncio provoca. Aquela respiração era a dose de endorfina que mantinha sua pulsação. Queria - nem que fosse para sobreviver vendo-o sorrir com a mesma magia do segundo encontro. Como que dentro de um quadro emoldurado... Isso lhe bastaria. Ah, se o momento se perpetuasse, e congelasse... A lágrima se acomodaria e não mais teria motivos para cair. O corpo não ficaria mais enfadado de tanto lutar contra a memória daqueles dias.
Ela nunca se sentiu de ninguém. Mas foi descoberta, desbravada. Agora ela vai começar a se preparar para o dia do arrebatamento. Para mais uma prova de seu elixir. Ele irá retirá-la do congestionamento. Do excesso de buzinas. Das músicas tocadas ao inverso. E então o abraço virá como um bálsamo para sua alma incompreendida. Conforme ensinou um poeta, aprendeu com a primavera a deixar-se cortar e voltar sempre inteira.
Myllena Valença