tag:blogger.com,1999:blog-83859766060331940632024-03-13T20:22:50.670-07:00CacoetesMyllena ValençaMyllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.comBlogger27125tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-87395321093613397502010-05-22T08:46:00.000-07:002010-06-23T08:03:39.275-07:00Fórmula mágica<p align="left"><em>You're gonna find yourself some where, some how<br />(Corinne Bailey Rae)<br /></em><br />Cheguei à conclusão que o conformismo pode ser o pior vilão do nosso destino. O namorado que a gente nem gosta tanto assim, mas por medo ficar sozinha acaba casando com ele. O amigo de infância que se torna uma sanguessuga, mas você carrega o fardo assim mesmo, em nome da camaradagem que por vezes existiu. O emprego que não te faz evoluir, mas você, quando abre os olhos, já se tornou refém do salário. </p><p align="left"></p><p>O conformismo só nos leva a existir de maneira passiva. Ficamos numa zona de conforto e pomos os planos em ponto morto. Depois, fingimos que a vida é assim mesmo e vamos mastigando os dias como folhas de louro, com preguiça de dar o primeiro passo para qualquer revolução. É que, depois que estamos acomodados, mesmo que num colchão desalinhado, as obrigações parecem impossíveis de ser abandonadas. E retirar um tijolo da construção derruba toda a estrutura.<br /></p><p></p><p>Os que se contentam com suas escolhas vão eliminando as horas como etapas a serem queimadas. Um rumo escolhido ao acaso para dar sequência aos dias... Quanto ao futuro? Adeus qualquer sonho! Para sorte de outros, a inquietude vem sorrateira e os faz pensar nas compensações de deixar a estrutura cair por inteiro.<br /></p><p></p><p>Se existe a vida plena de fim de novela? Eu não me recuso a acreditar. Quero sempre uma nova atitude que me faça mastigar os dias como um banquete dos Deuses. Assim, quem sabe, encontrarei a fórmula mágica que à existência dá todo sentido.</p><p><strong></strong></p><p><span style="font-size:85%;"><strong>(Favor, sites, não usar esse texto!)</strong> </span></p><p><span style="font-size:85%;"></span><br /><strong><em>Por Myllena Valença<br /></em></strong><br /></p>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-59093936052805717792010-02-11T10:31:00.000-08:002010-06-02T04:38:45.933-07:00Se precisar, bata a poeira dos sapatos!Dizem que quando é preciso usar muitos medicamentos para o mesmo tratamento é porque nenhum deles serve. De modo análogo, quando precisamos de muito malabarismo para manter uma relação é porque a posologia deveria ser outra. Se todos os esforços já foram usados e nada acontece, acredite, você está andando em marcha-ré.<br /><br />Quer testar a amizade de alguém? Certifique-se se você precisa mostrar que merece respeito e compreensão como quem pede esmola. Os amigos de verdade fazem bico, mas acabam gratos diante das críticas. Você não precisa se justificar para não ser confundido. Nunca. Você fala para ele como se tivesse o espelho como interlocutor. É sua extensão.<br /><br />Quando se tem um amigo de verdade, ele ganha o dia quando você tem uma vitória. É como se existisse para ambos a mesma medida dos ônus e bônus. Você passa um mês sem dar notícias... E aí? O telefone toca e você ganha a porção do seu elixir. Para quê puxões de orelha?<br /><br />Se você já agradeceu a Deus pela existência de alguém, se você tem para quem contar que acabou de pintar os cabelos, se depois que fala de suas tristezas, sente que o ouvinte resolveu metade de suas dores, parabéns: você já o tem para sempre!<br /><br />Aproxime-se de pessoas comprometidas com sua felicidade. Das outras, as imprestáveis, corra para longe e bata a poeira dos sapatos!<br /><br /><br /><strong><em>Por Myllena Valença</em></strong>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-72000664532413622442009-09-18T07:35:00.000-07:002010-05-22T08:54:46.253-07:00Encontrei um palhaçoTer assistido, tempinhos atrás, ao espetáculo Quidam, do Cirque du Soleil, me fez repensar uma qualidade de poucos: o bom-humor. Isso porque há anos eu não achava tanta graça nas piadinhas clichês dos palhaços. O riso – para quem provoca ou é provocado - é sinal de que uma pessoa possui espírito superior, capaz de desvaler os trampos da vida com bravura e ternura. Bom-humor deveria ser pré-requisito até para se trabalhar numa empresa. É virtude dos sábios, dos generosos, dos sãos.<br /><br />Um amigo me disse que espécie rara, hoje, é uma mulher que lhe provoque gargalhadas, dessas quando se joga a cabeça para trás e os olhos enchem de lágrimas. Concordo com ele em relação aos homens. E lembrarei daquele palhaço antes de decidir sobre meus amores. Quero alguém que mostre - e me faça exibir - 80% a 90% dos dentes pelo menos três vezes ao dia. É questão de sobrevivência!<br /><br />Encontrei um palhaço. E nem precisou ser um profissional de circo. Estando com ele, mantenho distância das carrancas, daqueles que mais se parecem com cossacos russos, que não encontram nenhuma relação entre piadinhas sacanas ou mancadas corriqueiras com uma risada franca, ruidosa e prolongada. E não falo desses manés que passam o dia soltando piadinhas chapadas. Bom-humor requer inteligência (emocional e intelectual). É, repito, uma virtude!<br /><br />Não adianta um namoradinho bom-de-cama, que me leve para ótimos restaurantes e discuta Sêneca se ele for um defunto sem atitude para me divertir. Um caso de amor sem sexo pode se prolongar. Sem a dose ideal de riso, no entanto, já começa falido.<br /><br />Fuja dos que possuem síndrome de vítima ou só enxergam um mundo obscuro. Cerque-se das pessoas de alma feliz e contamine-se!<br /><br /><strong><em>Myllena Valença</em></strong>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com21tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-58110176769781178482009-05-01T09:12:00.000-07:002009-12-19T10:07:55.966-08:00Querido estranho<a href="http://4.bp.blogspot.com/_4GZyLnjnGno/SfshXUwNmHI/AAAAAAAAAUk/Z6ni7x_Cvis/s1600-h/mãos.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330891268514748530" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 279px; CURSOR: hand; HEIGHT: 199px" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_4GZyLnjnGno/SfshXUwNmHI/AAAAAAAAAUk/Z6ni7x_Cvis/s320/m%C3%A3os.bmp" border="0" /></a>Quando ele me encontrava e pagava um Guaraná, eu me sentia a pessoa mais importante da terra. Ele mexia no meu cabelo e dizia que eu já estava enorme, e linda. Repetia pela trigésima vez a história daquela tarde em que eu matei os pintinhos coloridos comprados na feira, e achava a maior graça nisso. “Você apontava pro bicho morto e me chamava para ver”, contava às gargalhadas. Ele era como um membro da família que não estava comigo – pensava eu – por ser importante demais para isso. Um semi-Deus que me pagava guaranás e ria de pintinhos.<br /><br />Essa é uma das poucas histórias que guardo como se tivessem acontecido duas horas atrás. Lembro também que tinha sobre ele um medo que se misturava ao orgulho, à vergonha, ao amor que eu não sabia se era correspondido. Constrangimento por não estar presente em sua vida. Ódio, porque ele não estava presente em minha vida.<br /><br />Entre uma mistura inesgotável de sentimentos, eu tenho um que se sobressai: o remorso sobre-humano de não conhecer o passado e a intimidade daquele querido estranho. O que realmente lhe causava medo? Gostava de pimenta? Havia quebrado o braço quando criança? Suas notas no colégio eram melhores que as minhas?<br /><br />Jamais falei sobre meu pavor às provas de química, sobre meus amores; jamais discutimos nosso gosto por literatura ou por doce de leite. Ele não me ensinou a dirigir nem a gostar de música clássica ou rock; não assinou meus boletins, não me explicou sobre aquecimento global. Não esteve por perto para me proteger, nunca brigou para me defender. E quanto mais eu penso, uma coleção de nãos se espicha sobre mim.<br /><br />Ele foi um rio que passou em minha vida. Tenho seu sangue, mas não compartilhei sua memória para, assim, perpetuá-la.<br /><br />Naquele dois de janeiro, ele esteve tão longe quanto poderia estar.<br /><br />Hoje, incrivelmente, está aqui.<br /><br />Não me espelhei em você. Você não me deu grandes orgulhos. Sou sua parte mais importante, e você, querido estranho, estará sempre em mim.<br /><br /><strong><em>Myllena, filha de Anito Valença</em></strong>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-84265908944312755192009-04-17T19:19:00.000-07:002010-06-02T04:50:00.564-07:00A menina tolaReferência na arte-educação do Brasil, Ana Mae Barbosa nasceu no Rio de Janeiro. Mas aos três anos foi para o Recife, onde se formou enquanto gente e profissional. Ana se pronuncia pernambucana, porque a gente pertence ao lugar onde cria raiz. Numa entrevista à Revista Continente, Ana Mae falou dos preconceitos sofridos na vida pessoal e na profissão por um simples detalhe: sua autenticidade. “A pior coisa que eu vivi e não consegui reagir foi quando dei uma palestra em São Paulo e ao terminar alguém veio a mim e disse: ‘É incrível que você, com esse seu sotaque, fale coisas tão importantes’. Alguma coisa me bloqueou e eu não consegui responder...”, contou Ana ao repórter.<br /><br />Passei por situação parecida. Uma única vez. Por isso, de tão surpresa, não reagi da maneira que gostaria – ou deveria. Alguns velhos e novos colegas e eu comíamos sanduíche e batata frita, numa madrugada qualquer, depois de sair duma boate, no Recife. Todos na mesa eram da capital. Menos eu. Quando perguntada se era também do interior, uma das meninas respondeu da forma mais infeliz e patética que já ouvi: “Olha pra mim e vê se tenho cara de gente do interior!”.<br /><br />Alguma coisa me bloqueou e eu não consegui responder à altura.<br /><br />E como me arrependo!<br /><br />O que faz alguém se sentir cosmopolita por morar 134 quilômetros depois de mim ou onde quer que seja? Gostaria de ter dito àquela criatura que, se acaso ela fosse a São Paulo, assim como Ana Mae Barbosa, poderia ser tachada de matuta. Queria que ela soubesse que, tendo a bunda daquele tamanho, se chegasse à Espanha, teria todas as chances de ser confundida com uma prostituta. Isso porque, infelizmente, em toda parte do mundo existem pessoas estúpidas, desavisadas e ignorantes como aquela menina.<br /><br />Eu daria um conselho: que ela lesse um pouco sobre antropologia, cultura e comportamento. E se compreendesse o significado da teoria da relatividade, mudaria o discurso, porque a patente de recifense não faz dela uma pessoa mais ou menos civilizada. Já a leitura da bíblia ensinaria tal garota a amar e respeitar o próximo. Como gostaria de ter dito àquela menina tola o quanto a leitura nos dignifica. Aliás: como a leitura faz com que as pessoas evoluam a ponto de não pensar raso como ela. O conhecimento nos permite raciocinar. E gente que raciocina não fala as mesmas coisas que aquela menina tola.<br /><br />Um dia, quem sabe, essa tal menina tola vai entender que o colorido da vida está nas diferenças. Na burca e no cabelo pintado de rosa. No jogo entre Sport e Náutico, na situação e oposição.<br /><br />Quem sabe, quando descobrir sua autenticidade, ela dará as costas à alienação e enxergará as cores além desse mundo quadrado e daltônico onde faz questão (e não sei como consegue) de viver?<br /><br /><em><strong>Myllena Valença</strong></em>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com25tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-66679152013660745762008-10-23T16:15:00.000-07:002009-04-18T16:40:47.370-07:00Adulta, enfim!Estou adulta. Não sei se pela idade, que nem é tanta assim. Mas cheguei, enfim, à tal fase. Demorei a enxergar minha transcendência involuntária e sempre punha a culpa nos outros pelas mudanças no mundo. A Farinha Láctea, por exemplo, não tem o sabor de antes; não me dá mais prazer sentir seus grãos colados aos dentes. O biscoito Bono, notaram?, também está insosso e as tortas mais meladas da padaria não me enchem mais os olhos. Estou na fase dos dissabores da vida? Será esse o preço do amadurecimento, da liberdade que sempre quis?<br /><br />Perdi o hábito de me benzer em frente à igreja, de entrar com o pé direito e correr de gato preto. Não acredito em tudo que é história e nos mais ínfimos sinais saco logo a áurea das pessoas. Já não chamo de inteligente todo mundo que sabe algo a mais que eu. Já não elogio nem critico com tanta frequência, porque meus sentidos estão mais volúveis. Talvez por esse motivo as dores corriqueiras mudaram de ritmo. Parecem tão mais brandas agora. Nessa nova fase também passei a me estressar com outras coisas tolas. O que provoca, por Deus, tanta confusão de vê com ver, está com estar, vir com vim? Detesto esses barbarismos!<br /><br />Não consigo mais conter cada palavra pelo receio de magoar - mas às vezes, quando mais deveria falar, falho. Ainda assim, o medo de me expor, de ser mal vista, julgada, passou. Isso porque acabei com a antiga e feia mania do deixar-prá-lá: parei de dar de ombros diante de injustiças e mentiras; aprendi a interpelar.<br /><br />Determinadas amizades perderam o sentido. Outras, bem ou mal, enxergo de forma diferente. Umas não conseguiram me acompanhar. Outras, porém, me surpreenderam e me ganharam, quem sabe, para sempre. Confesso mais: eu, que queria convencer plantas, lagartixas de parede e gente chata que minha amizade valia à pena, não ligo mais. Minhas qualidades, não tenho que prová-las. Aprendi a dizer não e evito eufemismos - não preciso ser a menina mais legal da cidade. Os meus estão sempre perto (mesmo que não fisicamente), então, abro mão do resto.<br /><br />Me importo menos em ser clichê. Perdi o cuidado excessivo de falar ou transcrever algo já dito por outros. Adulta, aprendi a relaxar o períneo, perdi a vergonha de chorar e até ganhei medo de anestesia. Um pouco mais de ousadia para seduzir me soava vulgar. Nada. Cada pessoa se faz ou não vulgar. Quero fazer plásticas, morar longe daqui e topar o desafio de ser sempre pontual sem, para isso, precisar adiantar os ponteiros em 15 minutos.<br /><br />Sei não, acho que comecei a contagem regressiva para pôr ordem à minha vida. Acho que vou ter de encarar a vida de adulto.<br /><br /><em><strong>Myllena Valença</strong></em>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com23tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-25473706576599875342008-09-28T20:29:00.000-07:002009-12-27T06:43:37.260-08:00Café com AmélieEm certas conversas, lembro exatamente das expressões faciais do meu interlocutor, da força como cerra os dentes quando está com raiva, joga a cabeça para trás nas gargalhadas ou, nervoso, coça a ponta do nariz. Mas fixar uma só palavra do que foi dito, por favor, tem horas que é tortura. Sorrio, assinto, me espanto... Mas estou noutra esfera. “Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre”. Nessa frase, de Fernandão boníssima Pessoa, encontrei, enfim, um par perfeito para o desapego a tanta coisa que me ronda.<br /><br /><br />A citação casou bem, por sinal, com o novo termo que acabo de aprender: presenteísmo. Os dicionaristas ainda não reconhecem essa palavrinha. Mas entendo bem disso. O presenteísmo, na verdade, é estar na aula de italiano quando tudo que se pensa é na calça manchada que não se pôs para lavar; é andar com dois corpos: a caminho do trabalho estou, ao mesmo tempo, pelas ruas de Stambul, no café com Amlélie Poulain.<br /><br /><br />Certo dia, no consultório médico, ao ser perguntada sobre há quantas horas estava na fila, tudo que sabia responder era sobre os pés rachados da senhora gorda à minha esquerda, sobre a moldura quebrada no quadro falso de Romero Britto, disposto no canto da clínica, e sobre a sobrancelha desajustada da recepcionista.<br /><br /><br />Desolado com minha falta de zelo às suas conversas, um amigo confessou que daria um dedo pelos meus pensamentos. Na boa: ele não entenderia o enigma que me leva a falar sozinha, rir do sigilo, resmungar do vento, balbuciar dialetos que nem eu entendo. Como explicar essa ebulição de quase tudo? Sou o meu próprio espetáculo e adoro assistir à minha paisagem.<br /><br /><br /><br /><strong><em>Myllena Valença</em></strong>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-1017929566241193072008-04-13T06:31:00.000-07:002008-04-13T20:01:19.781-07:00Numa constante<div align="left"><span style="font-size:85%;">“Existe [a felicidade], sim; mas nós não a alcançamos. </span></div><div align="left"><span style="font-size:85%;">Porque está sempre apenas onde a pomos. </span></div><div align="left"><span style="font-size:85%;">E nunca a pomos onde nós estamos”.<br /><strong>(Vicente de Carvalho, Poemas e Canções)</strong></span><br /><br />A história é longa. E bota longa nisso. Na realidade, nem sei como ainda encontro disposição para falar sobre esse assunto. Deve haver uma porta certa por onde escapar! Ou alcançar. Ah, não é possível. Mais uma vez, era uma vez o destino, que novamente fez questão de se manifestar contra mim. E aqui estou eu, na mesma rede, depois da mesma ausência. </div><div align="left"> </div><div align="left">Cheguei ao ponto de abandonar certos livros e filmes. Passo longe principalmente das partes que se referem a mim! E a ele. Há histórias que faziam sonhar; hoje, me têm sido uma tragédia. </div><br />Não posso aceitar! Voltei a acordar com o sobrepeso do meu corpo e o gosto do vazio na boca agora me persegue. O que espero, afinal? Pensei que tinha me tornado esperta o bastante... No entanto, insisto burramente nos campos cavernosos que são exatamente iguais. Já conheço bem o início e mais ainda o fim disso tudo. O destino é tão patético que nem faz questão de mudar, me enganar ou algo parecido. E nem precisaria. Basta aparecer com sua principal armadilha para me tornar o bichinho indefeso de antes.<br /><br />Pensei que já havia deixando tudo acertado comigo. Imaginei que tinha contraído sensatez. Mas não. Continuo, repetidamente, a mesma. Enquanto parte de minha vida dá cambalhotas, esta, a pior delas, é uma constante. Até os sonhos, dos quais havia me livrado, nos últimos dias se referem estritamente às mesmas frustrações, ao orgulho ferido, ao ciclo interrompido. Compreendo o que preciso. Mas será preciso (o mesmo) tremendo esforço. Isso dói.<br /><br /><strong><em>Myllena Valença</em></strong>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-65703139045348896142007-12-28T15:40:00.000-08:002008-09-29T16:32:18.945-07:00O tempoQual a real duração do tempo? O que se esconde por trás dessa linha invisível que rege a humanidade? Entre prazos, horários, compromissos e planos vivemos presos às imposições da incansável maquinaria do tempo: o relógio. O seu tic-tac incessante passou a controlar cada ciclo de nossas vidas.<br /><br />O tempo vai passando, as forças se esgotando, a paciência, então, sem comentários. Mas o grande inventor do Universo sabiamente dividiu o ano em fatias e é justamente na última delas que é dada a oportunidade de recomeçar, reinventar e atrelar forças mais uma vez. A partir daí, poderemos recuperar o entusiasmo para continuar cumprindo prazos, horários, compromissos... O 365º dia do ano é simplesmente a hora de fechar a Gestault (encerrar um ciclo). Hora de fazer uma grande faxina dos armários do coração.<br /><br />Vamos lá! Eis que surge a oportunidade de propor a nós mesmos uma mudança. Para isso, há mil recursos à disposição. Basta enxergar com os olhos da alma. É chegada a hora de nos desfazermos das roupas velhas, de pararmos de insistir no que já acabou. E se, por ventura, o tempo arranhou a família, o trabalho ou o corpo, a esperança de um Ano Novo abre frestas por onde o que restou de bom se derrama no futuro.<br /><br />Neste ano iminente declare a morte do ego fechado, frio e prepotente. Segure na mão direita a *cornucópia que abre caminhos para a boa sorte. Sonhe alto. O sonho só se torna tragédia quando, por medo de errar, mutilamos nossos talentos. Que a utopia seja o terreno de sua liberdade. Trace metas. Talvez este seja o primeiro dos melhores anos da sua vida. Abra os caminhos para as oportunidades. Como disse Pasteur: "A chance favorece a mente preparada".<br /><br />A vida pode ser normal ou linda. Seja você mesmo o roteirista do seu destino. Corra enquanto há tempo!*Cornucópia: na mitologia era um vaso em forma de chifre, com frutas e flores. Expressa um antigo símbolo da fertilidade e riqueza.<br /><br /><strong><em>Myllena Valença<br /></em></strong>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-79888088967790378012007-10-31T19:22:00.000-07:002007-11-05T05:55:42.152-08:00Sem gravidadeQuando perguntei, só por curiosidade, a um amigo neurologista os motivos de uns sonhos estranhos que me perseguiam, ele respondeu que meu subconsciente estaria querendo se livrar de meu lado velho, de um modo de vida que, apesar de alheio ao bom senso, eu continuara persistindo em seguir. Eu nem desconfiava que, além dos amigos mais íntimos, minha mente também lutava contra os desejos insanos do meu coração. Esse duelo pode ser uma boa explicação para as dores constantes nos ossos. O espírito não estava em sintonia com o corpo. Daí a explicação para as não menos intensas dores vasculares... Doutor, me dá um remédio para a alma! Se não achar, me diz qual a fórmula capaz de ressuscitar esse músculo que acaba de me deixar com um buraco enorme no peito!<br /><br />O mesmo médico me explicou também que quando a gente se livra do tal lado velho, o coração encara essa mudança como um luto. Cada dor, um luto. É assim que me sinto hoje. Não pela chegada de uma perda. Mas por ter me dado conta dela. Essa conscientização me veio com um rasgo desumano. Eu não percebera o luto ou não o aceitara porque nesse período minha alma travara uma grande guerrilha contra a razão. Acredito que nenhum deles saiu ganhando. E eu me perdi... E acabei encontrando a resposta para o que estou sentindo agora. Careço de força de gravidade. Estou solta, flutuando sozinha, com tempo suficiente para pensar no nada que encontro em volta. Já haviam me dito que o amor envolve riscos e que a vida não é nada mais do que poeira, desejo, invenção, fantasia, vontade... Vou tentar ser apenas racional. Um velho amigo já me alertou: “o coração, se pudesse pensar, pararia”.<br /><br /><strong><em>Myllena Valença</em></strong>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-79292258715693553072007-10-12T06:43:00.000-07:002007-10-15T15:00:17.148-07:00Caixinha de fósforosEstou tendo a impressão de que não caibo mais em mim. Estou imensa e não sei o que fazer comigo mesma. Meus pensamentos não se acomodam. Vivem em ebulição. É como um feto dentro do ventre, que já acena para o dia da chegada, mas nada acontece. Sou como um menino gordo em frente a uma mesa cheia de guloseimas, mas que não sabe por onde começar, não sabe se devora primeiro o bolo de chocolate ou a macarronada. O que devo querer primeiro? Qual talher usar? Aí vou diminuindo diante desse mundaréu de planos e sonhos. E eu, que me sentia enorme, passo a minguar.<br /><br />E se todos esses devaneios fossem bem-sucedidos? E se uma fada-madrinha me concedesse cada um dos meus anseios? Aí, temo não dar conta de todos eles... Por outro lado, eu poderia esquecer tudo: aquela viagem da minha vida, que, no fundo, no fundo, eu não queria que tivesse volta... Eu resolveria abandonar a mim mesma e apenas ajudar tanta gente que precisa - mesmo sem saber – de mim! Ai, Deus, preciso tanto de uma história inventada, de uma existência desenhada! Quero ajuda pra criar um fantástico roteiro que me faça sentir orgulho - de mim mesma? Aí, me deparo com o maior medo: vou me saciar um dia? Ou me tornarei escrava da minha fábrica incansável de fantasias? Essa ansiedade ainda me mata... Sinto-me em um simulado de múltipla escolha. Mas com casca de banana. Todas as alternativas me parecem deliciosas. Mas só posso escolher uma!<br /><br />Por favor, preciso de um nome para isso que desejo! Ei, me explica! Para quê tudo isso? Onde quero fincar minha história? Será tudo vaidade? Que Deus me perdoe. Que Deus me ajude a continuar pertencendo a mim mesma. Quero o mundo todo para mim; e nem sei a qual pedido que devo dar prioridade na oração do dia. Minha cama já está do tamanho de uma caixinha de fósforos. Ainda ontem, tinha o tamanho de uma caixa de sapatos. Desse jeito, onde vou parar? Porque depois de conquistar, posso simplesmente preferir acordar no neutro.<br /><br />Se eu encontrasse uma fórmula para dar existencialismo aos meus pensamentos, eles me explicariam a que vieram e andariam de mãos dadas comigo. Então, com um exército de aliados, tudo ficaria claro e simples...<br /><br /><strong><em>Myllena Valença</em></strong>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-2905696256460021612007-10-10T05:08:00.000-07:002007-10-10T05:13:52.389-07:00Cigana Contadora de HistóriasVocê sabia que, se não fossem os piolhos, o mundo não teria se enchido de gente? Pois é: Deus, tentando juntar Adão a Eva, que custavam a se apaixonar, jogou vários desses insetos sobre os dois moradores do Jardim do Éden. Na busca de coçar as costas um do outro, eles, enfim, aproximaram-se. O conto é apenas uma demonstração do que uma criança pode aprender através da contação de histórias. A prática, que nem sempre faz parte dos lares, é uma excelente forma de causar desejo de ler, conforme ensina a Cigana Contadora de Histórias, personificada pela jornalista Gabriela Kopinits, em Caruaru. Ela, que se considera uma “traça de livros”, repassa sua paixão pela leitura para crianças e adolescentes em escolas, bairros pobres e hospitais, levando a magia das lendas, mitos, folclores e fábulas e oferecendo, voluntariamente, um dia de alegria para os pequenos. <br /><br />Gabriela tomou gosto por histórias aos quatro anos de idade, quando o pai começou ler para ela, sentado à beira da cama, antes de dormir. Daí em diante, autores como Monteiro Lobato e Ana Maria Machado ganharam uma fiel seguidora, que tenta propagar que “uma criança se torna um adulto mais seguro, feliz e equilibrado se tiver acesso à literatura”. Um dos livros preferidos da jornalista é o Contos Tradicionais do Brasil, do escritor Câmara Cascudo, considerado o Papa do folclore brasileiro. Nessa obra, a criançada pode encontrar muitos dos costumes, linguagens e crenças brasileiros. Literatura de cordel ajuda a compor o rol de predileções da contadora – e dos seus expectadores mirins também. <br /><br />“Clássicos como Os Três Porquinhos, A Bela Adormecida e a Branca de Neve continuam encantando meninos e meninas. Aos poucos, eles começam a se aproximar, e quando percebo, já estão grudados na barra da minha saia, pra não se dispersar de uma só palavra”, descreve a Cigana, que hoje ajuda a manter, através da Secretaria Municipal de Educação, o Projeto de Incentivo à Leitura (em escolas públicas) e o Poesia, Alimento da Alma (com a participação de artistas da cidade). <br /><br />Gabriela Kopinits foi convidada, no ano passado, para participar de uma noite de contação de histórias, organizada pelo Montalvo Arts Center, na Califórnia, Estados Unidos. A participação foi através do envio de um cd com histórias e fotos. No próximo dia 21, a jornalista estará se apresentando na Favela da Lata, em Caruaru. Quem quiser chamá-la para fazer a festa da garotada, deve ligar para o telefone (81) 9606 8762.<br /><br /><strong><em>Myllena Valença</em></strong><br /><br /><strong>* Matéria publicada originalmente na</strong> <strong>Folha de Pernambuco</strong>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-88546098675571337032007-09-06T13:31:00.000-07:002007-09-15T05:51:18.246-07:00Frase mórbida?! Eu não achoMeu primeiro contato com Ele foi quando eu tinha cinco anos de idade. Cochilei e fiz xixi no sofá de casa, novinho em folha. É hoje que levo uma surra, resmunguei! Mas aí, antes de me deitar, ajoelhei-me e sussurrei: Papai do Céu, que mainha não brigue comigo quando chegar em casa, senão eu tô frita! Dormi na mais perfeita paz e no dia seguinte ela até me consolou: a gente lava e põe no sol. Ops, encontrei ali um aliado! Cresci lembrando com gratidão por aquele dia, certa de que não foi o sol que me salvou de uma bela bronca...<br /><br />Mas hoje, cada dia que passa, tenho até certo constrangimento de falar sobre Ele. E isso me dá um remorso danado... Porque a maioria das pessoas prefere acreditar em si própria, na sorte, no acaso, na natureza, nos astros, em Santa Periquita do Rabo em Pé, na puta que lhe pariu, a dar crédito pela vida, pelas graças ou pelos livramentos a Deus. Ou Jesus. Já repararam que as pessoas pouco usam esse nome? <br /><br />De uns tempos para cá, percebi que não posso consolar muitos amigos oferecendo-lhe uma palavra de conforto advinda da Bíblia: seria mais que uma afronta às mentes que se acham magnânimas e mega-bem-instruídas. Elas não acreditam em um livro que somente ensina o bem, mas lêem os jornais, e propagam tudo que estava ali - que foi escrito por um mero repórter - como a mais pura verdade. Ficam inchadas de tanta presunção ao ditarem seus autores, livros favoritos. “Não, porque Dan Brown é maravilhoso... Não, porque adoro as críticas de Arnaldo Jabor”. Mas o que disse Jesus aos seus discípulos precisa ser incansavelmente rebatido, discutido, punido...<br /><br />Estava conversando com uma amiga e comentei: mas a gente não pode botar uma passagem cristã no MSN que é motivo de polêmica, né, menina? Logo depois, coloquei no espaço de mensagens pessoais a seguinte frase: "Nunca mais te servirá o sol para luz do dia nem com o seu resplendor a lua te iluminará; mas o Senhor será a tua luz perpétua". Juro: não se passaram cinco minutos para a primeira avessa a Deus dizer: “mas q frase mórbida é essa, mulher?”. Mórbida? A cazzo só se fala em Deus quando se está na lama? Outro: “Virou crente, foi?”. Dã! Me errem!<br /><br />Já ganhei tantas coisas boas, já tive tantos pedidos acatados, já recebi bênçãos... Mas se eu atribuir tudo isso a Deus, noooooossa! Arranjo facilmente um opositor! Já deve ter até algum leitor pensando: Mas ela não quer dar uma de santinha pra cima de mim não, né? Acertei? Seguramente, sim!<br /><br />Uma exemplo dos frutos da minha fé: havia uns quarenta candidatos à vaga por um estágio... Por aí. Estava num período de baixa auto-estima. O “emprego” em uma TV cairia como uma luva para eu descobrir que eu não poderia ser tão improfícua quanto pensara. Fiquei na minha. Os que se auto-congratulavam os mais ilustres da faculdade, que tinham a cabeça quase saindo do pescoço, me olhavam de nariz torcido. Mas aí eu bati o pé: Deus, o sol por acaso não nasceu para todos? E eu por acaso não lhe sou fiel? (Hoje estou bem dispersa, mas, no tempo, eu realmente era!) Pois fiquei na varanda de casa, cobrei a Deus boa parte de suas promessas e, dias depois, tive a notícia do resultado. Única selecionada! <br /><br />À época, aquilo me parecia a chance de minha vida, um divisor de águas. Hoje vejo que não era nada se comparado à glória que Deus ainda irá me revelar. Pretensiosa? Não... Nem um pouco. Não sou alienada, não sou fundamentalista, nem nenhum desses termos proclamados pelos que adoram mostrar sua opinião “sóbria” e “madura” ou sabe-se lá o quê contra Cristo! Apenas confio no meu taco e em alguém que me ama, me conhece pelo meu nome e pode me sustentar!<br /><br /><br /><em><strong>Myllena Valença</strong></em><strong></strong><em></em><em></em>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-88523897350854036972007-08-26T19:40:00.000-07:002007-10-19T13:16:20.046-07:00Uma má notícia<a href="http://2.bp.blogspot.com/_4GZyLnjnGno/RtI53go7kyI/AAAAAAAAACc/5KmQwsGx-oE/s1600-h/remédios.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5103204953581392674" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 286px; CURSOR: hand; HEIGHT: 220px" height="240" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_4GZyLnjnGno/RtI53go7kyI/AAAAAAAAACc/5KmQwsGx-oE/s320/rem%C3%A9dios.jpg" width="297" border="0" /></a>Toda semana minha mãe liga e geralmente me aparece com uma notícia-bomba. Quando não, minha irmã é a interlocutora. O que foi dessa vez?, pergunto já de sobrancelha levantada. E ela começa a narrar a manchete de São Bento do Una – geralmente relacionada a parentes. Eles pedem dinheiro e esquecem de pagar, adoecem, morrem e deixam os custos por conta de minha mãe, invadem a casa... Mami, já é de praxe, reata casamentos, arruma emprego, tenta abrandar o choque de uma gravidez indesejada, e por aí vai. Mas o protagonista de hoje foi diferente. Myle, nem te conto, Luck está com depressão! Comassim, Bial? Confesso que aquilo me veio com um aperto grande no coração, maior que o causado pela lembrança de não ter conhecido, tirado fotos e tocados os cabelos visivelmente macios de Sandy e Junior em sua última turnê.<br /><div><br />Imaginei em poucos segundos toda a vida de Luck. Há quanto tempo ele não tem uma namorada? Seguramente, desde quando nos mudamos da chácara para o centro da cidade, há quase quatro anos. Ninguém tinha muito tempo ou paciência de lhe dar atenção, levá-lo para conhecer o novo ambiente, tão diferente da paisagem arborizada e cheia de bichos com a qual estava habituado. Mas chegar a ter depressão? A ficha começou a cair. Taí a explicação para o bege fosco de sua aparência, aquele olhar caído, sem brilho e a repentina estranheza com quem tinha mais laços. Eram sinais de que ele não estava lá muito bem. Caminha pouco e mal faz ruídos ao longo do dia. Falta-lhe apetite e nem mesmo um bom banho de bica parece estimulante. Isolamento social acaba qualquer um, ainda mais Luck, cheios dos traumas, que, abandonado pela família, só encontrou um novo lar por causa da conhecida generosidade de minha mãe, coitado! </div><br /><div><br />Juro que queria estar do lado dele agora. Uns afagos ajudariam. Guilhermano, o veterinário, disse que o tratamento deve incluir medicamentos antidepressivos, como Prozac, ou remédios homeopatas e Florais de Bach, prescritos pelo terapeuta. Tudo para o restabelecimento emocional do cão deprimido. Sei que muitos que procuram minha mãe a tratam bem por puro interesse. Luck não, ele se achega a ela com afeto desinteressado e incondicional. Serviu de lição pro meu pai. Depois de perder uns cinco cães com pedigree por causa de doenças bobas ou por “frescura de cachorrinho chique”, jurou que só criaria vira-latas. Mas essa história deixou o velho chocado: “Hum, depressão em pé-duro? O mundo está mesmo de cabeça para baixo!”.<br /></div><br /><div><strong><em>Myllena Valença</em></strong></div>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-42936950219188403652007-08-14T20:32:00.000-07:002010-12-19T18:26:29.267-08:00Na Casa das Sete Mulheres 2<a href="http://1.bp.blogspot.com/_4GZyLnjnGno/RtI6sQo7kzI/AAAAAAAAACk/kUx2XsngGqM/s1600-h/weirdwomanevelyn.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 290px; FLOAT: left; HEIGHT: 219px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5103205859819492146" border="0" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_4GZyLnjnGno/RtI6sQo7kzI/AAAAAAAAACk/kUx2XsngGqM/s320/weirdwomanevelyn.jpg" width="304" height="227" /></a> <span style="font-family:georgia;">Quem acompanhou as peripécias de minhas coleguas em “Na Casa das Sete Mulheres” e conheceu o lado romântico de uma república deve se preparar para apreciar as outras facetas das espécies com quem habitei. Houve algumas normais, sei. Mas as barras-pesadas super merecem divulgação. Não posso guardar para mesas de bar ou para minhas netinhas as excentricidades das garotas que invadiram a calmaria do meu lar e me fizeram esquecer o significado do termo normalidade, tornando minha vida menos compartilhada e mais compartimentada. </span><br /><span style="font-family:georgia;">Vou usar nomes fictícios, ok? </span><span style="font-family:georgia;">Ainda não será dessa vez que ficarão famosas. </span><br /><span style="font-family:georgia;"></span><br /><span style="font-family:georgia;">Já vivi sob o mesmo teto que a mulher mais fora de si de todo o mapa-múndi. Susana dizia por aí ter sido noiva de um traficante do Rio de Janeiro. Usava um anel da H. Stern cravejado de três pedras de brilhante, que, segundo o orçamento esbanjado pela “sortuda”, valia mais de quatro mil reais. Também tinha vestido e sapatos de grife doados pelo garanhão. Era o seu kit! Uuui! </span><br /><span style="font-family:georgia;"></span><br /><span style="font-family:georgia;">A garota se aproveitou do meu excesso de bondade e aprontou pacas! Num dia de frio vestiu (sem permissão) meu único casaco limpo e, desaforada que só ela, disse que se eu quisesse usar a roupa fosse lá obrigá-la a tirar. Não sei se foi o gosto pelo desafio ou se ela tava ligada na minha. Preferi não procurar saber de suas intenções e sai no frio mesmo. Ai, como eu era lesa!</span><br /><span style="font-family:georgia;"></span><br /><span style="font-family:georgia;">Dias depois fui usar as botas mais lindas que uma estudante de primeiro período e sem estágio poderia comprar. Me arrumei toda, vesti o pé esquerdo e, com o outro pé descalço, fui até a sala, mancando feito coxa. Ela estava sentada de pernas pro ar e fumando um cigarro. Susana, tu viu minha bota preta que tava no armário? Mulheeeer, sabe o que foi...? É que saí com ela ontem à noite (mais uma vez sem permissão) e um bandido me assaltou. Ele deixou cair uma e eu trouxe de volta! E por que você não entregou a outra bota ao moço, Susana? O que o bandido vai fazer com uma bota só? Depois descobri que aquele exu tinha jogado o sapato no namorado, durante uma briga na rua, e não voltou para buscar... </span><br /><span style="font-family:georgia;"></span><br /><span style="font-family:georgia;">Lembro do dia que avistei Lourdes pela primeira vez. Uma moça cheia de gingas de malandro da favela. Pintava as madeixas de preto azulado e tinha o hábito de modelá-las com um tal de pega-rapaz. Fazia um rabo-de-cavalo e deixava uma franja quase na altura dos ombros, dividida ao meio para dar um “quê” de mulher fatal. Fora as maquiagens num estilo Paulette Pink, a drag queen; e as lentes de contato azuis (e verdes, para ocasiões mais formais) que usava lhe davam um aspecto de vampirismo de lascar, do tipo tirem as crianças da sala, que lá vem Lourdes! Adorava usar um par de botas brancas na altura do joelho e mais parecia que as pernas da louca estavam engessadas. </span><br /><span style="font-family:georgia;"></span><br /><span style="font-family:georgia;">Um belo dia me aparece desfilando pela casa com um pedaço de pão francês com carne numa mão e um palito de dentes na outra, só de calcinha e sutiã. Ao notar nossos olhares (pouco discretos) para seu o corpinho nada jeitoso, tratou logo de esclarecer: tão vendo isso aqui no meu quadril? Né estria, não! É marca de facada mermo! Silêncio absoluto e olhos arregalados. </span><span style="font-family:georgia;">Pelamordedeus! Pensamos em exorcizar a menina, entregar cartilha de educação doméstica. Tão simples. Mas a guria queria nem papo com a gente. </span><br /><span style="font-family:georgia;"></span><br /><span style="font-family:georgia;">Havia outra, Marluce, que era “tarada, sim, e com muito orgulho”. Com ela não tinha esse negócio de perder tempo com conversa fiada! Queria, podia e conseguia devorar os homens! A lembrança de Marluce que tenho entalada na memória é dela preparando uma feijoada. Estava com toca de meia na cabeça para conservar a escova feita sete dias antes, vestia camisa branca furenta, daquelas ganhas em campanha de vereador, e um micro short que desafiava as leis da Física. Enquanto partia com uma peixeira os pedaços de linguiça, mantinha o pé esquerdo escorado no joelho direito e, de vez em quando, dava uma pausa para tirar a calcinha de renda vermelha - maior que o short - da bunda; cortava pé-de-porco, tirava o outro lado da calcinha da bunda; machucava o alho e... Não era tão vaidosa quanto a outra: tinha um rímel vencido no nécessaire e ainda não havia descoberto sua utilidade. </span><br /><span style="font-family:georgia;"></span><br /><span style="font-family:georgia;">Ela vivia com os hormônios histéricos e uma das moradoras até costumava chamá-la de periquita flamejante! Com razão. Numa noite qualquer, as outras cinco meninas circulavam alvoroçadas pela cozinha, sala, banheiro... Mas um dos quartos estava mais que ocupado. Trancado. Em vez de colocar uma placa com néon rosa na porta dizendo “O BICHO TA SOLTO!” ou ir para o lugar certo onde se faz certas coisinhas, a moça levou “o homem das mãos grossas” para um dos nossos quartos. Minha gente, aquilo deu um rolo... Uma semana de reunião, debate de puritanas versus desinibidas, um chilique danado! Foi trabalho para a casa se descontaminar daquele dia! </span><br /><span style="font-family:georgia;"></span><br /><span style="font-family:georgia;">Agora, avaliem o que é essa criatura, doente por Bruno e Marrone, dividindo espaço com uma roqueira. Mas não era uma roqueira qualquer, não! Era seguidora de Sepultura, Ratos de Porão e, em dias de calmaria, Dimmu Borgir – tudo no volume máximo! Na semana que apareceu na casa, a moça teve a insalubre capacidade deixar as unhas de molho em uma Tupperware e jogar os restos mortais de cutículas DENTRO, compreendem?, DENTRO da pia da cozinha! E achou péssimo a gente tentar explicar que, no convívio em sociedade, isso é absolutamente execrável! Jogamos o recipiente lixo adentro junto com a memória, mas ainda era um parto ver aquela criatura mastigar com a boca aberta e trocar guardanapos por panos de prato... </span><br /><span style="font-family:georgia;"></span><br /><span style="font-family:georgia;">Sofri, é bem verdade, mas a vingança vem de jegue! Saí de lá e, no lugar, ficou uma criatura que faz qualquer uma dessas histórias parecer fichinha! Toma café no prato, usa saia longa com bota All Star e colabora com o futuro da humanidade poupando qualquer uso de água. </span><br /><br /><br /><span style="font-family:georgia;"><strong><em>Myllena Valença</em></strong></span>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-48735063978039344492007-08-10T10:54:00.000-07:002007-08-14T21:16:05.888-07:00Bálsamo<a href="http://1.bp.blogspot.com/_4GZyLnjnGno/RryonjoYx1I/AAAAAAAAACE/am4gMUzJhZk/s1600-h/flor+2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5097134275809560402" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 274px; CURSOR: hand; HEIGHT: 163px" height="186" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_4GZyLnjnGno/RryonjoYx1I/AAAAAAAAACE/am4gMUzJhZk/s320/flor+2.jpg" width="320" border="0" /></a> Passa um a um na lista telefônica e desiste na letra G... Não encontra alguém que a faça rir, que a console. Não tem ninguém. A magnífica invenção de Graham Bell nem sempre é o antídoto para esse buraco negro implacável que transforma sua rotina em discretos velórios sem flores e sem pessoas para dar-lhe movimento. A saudade sufoca. O desejo de roubar e enjaular o que não lhe pertence, dói. Porque não adianta estar junto, porque ainda não pode ser assim. A pressão aumenta, o oxigênio diminui. E precisa de um tempo para pinturas e reformas. O breu toma conta do universo, das conversas, dos amigos, das roupas que outrora fizeram daquela mulher algo mais que um esqueleto que se deita e se levanta sem rumo.<br /><br />Daria qualquer coisa para sentir novamente a paz que aquele silêncio provoca. Aquela respiração era a dose de endorfina que mantinha sua pulsação. Queria - nem que fosse para sobreviver vendo-o sorrir com a mesma magia do segundo encontro. Como que dentro de um quadro emoldurado... Isso lhe bastaria. Ah, se o momento se perpetuasse, e congelasse... A lágrima se acomodaria e não mais teria motivos para cair. O corpo não ficaria mais enfadado de tanto lutar contra a memória daqueles dias.<br /><br />Ela nunca se sentiu de ninguém. Mas foi descoberta, desbravada. Agora ela vai começar a se preparar para o dia do arrebatamento. Para mais uma prova de seu elixir. Ele irá retirá-la do congestionamento. Do excesso de buzinas. Das músicas tocadas ao inverso. E então o abraço virá como um bálsamo para sua alma incompreendida. Conforme ensinou um poeta, aprendeu com a primavera a deixar-se cortar e voltar sempre inteira.<br /><br /><strong><em>Myllena Valença</em></strong>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-87111887020977493382007-08-04T17:38:00.000-07:002008-12-02T19:24:10.139-08:00A tal inveja<a href="http://2.bp.blogspot.com/_4GZyLnjnGno/RrUeMjoYx0I/AAAAAAAAAB8/Xcj_qw3itNc/s1600-h/mulher.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5095011754511484738" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 208px; CURSOR: hand; HEIGHT: 164px" height="151" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_4GZyLnjnGno/RrUeMjoYx0I/AAAAAAAAAB8/Xcj_qw3itNc/s200/mulher.jpg" width="200" border="0" /></a> Raquel está sempre ligada na TV Câmara, vê novelas, acompanha todos os Big Brothers e é leitora assídua da Marie Claire; graças a Gikovate, discorre com muita propriedade sobre temas como amor próprio, amor ao próximo e fazer amor. Ademais, é seguidora de Dostoievski e até de Paulo Coelho – depois de muita resistência. Bebe cerveja, conhece segredos profissionais para comprar, armazenar, servir e saborear vinhos e é a melhor veterinária da clínica. Há anos freqüenta academia três vezes por semana - e é dona do mais belo par de pernas de todo o quarteirão. Até já se habituou à ausência de... bunda e sabe excelentes truques de como usar roupas para disfarçar a ínfima imperfeição. Uma mulher completa, linda...<br /><br />O problema é que, até os 28 anos, não havia conseguido fisgar um namorado a sua altura, um cara sério com quem pudesse desfilar por aí, apresentar às amigas, à tia chata e ao pessoal do trabalho como SEU. Ela se garante de verdade, sabe? Tem bom papo, mexe com os caras. Mas todos que passam por ela somem, como regra, no vigésimo encontro, no máximo. Quando tudo está se encaixando e as interpretações da conquista foram deixadas para trás, o pretendente se esquiva de fininho ou lhe dá um fora que desce rasgando!<br /><br />Poxa, será que a bunda influencia tanto assim? Um clareamento dental resolveria? Sessões de terapia? Ela não sabe se passa a se comportar de forma mais recatada ou se age como uma exibicionista... O que assusta os homens: fazer parte do rol de moçoilas sérias ou das prontas para o ataque? Está beirando a casa dos 30 e não tem com quem planejar uma lua-de-mel, a decoração da casa, os nomes dos filhos... Já se sente experta o bastante para lidar com qualquer tipo de pretendente: tímidos, extrovertidos, panos-quentes, egoístas ou generosos... Desde que a amem e enxerguem cada um de seus predicados – mas nada acontece!<br /><br />Foi aí que numa bela noite uma amiga de uma amiga apresentou Marcelo... Ah, Marcelo... O homem mais perfeitinho que a Rede Feminina de Combate ao Preconceito e a Associação de Mulheres Bem-resolvidas poderiam desejar. Fino, educado, vistoso, simpático, fala francês, inglês, toca violão, ganha qualquer partida de sinuca ou pôquer e é o carinha popular da empresa onde trabalha. O olhinho dele cintilou ao topar no dela. Daí em diante, pediu-a em namoro e meses depois estavam noivos. Diante de mais ou menos um lote de amigos, Marcelo fez a declaração de amor mais linda que uma mulher poderia ouvir ao longo de quatro ou doze encarnações. Ele a amava intensamente... Dava-lhe flores dia de quinta-feira só porque era quinta-feira...<br /><br />Mas algo estranho não aconteceu. Algo completamente anormal não ocorreu. As pernas dela não tremiam. A garganta não ficava seca nem o coração acelerava quando estava com ele. Ela sonhava acordada com a blusinha nova que havia comprado, com a conta de energia que esqueceu de pagar. Mas não pensava nele. Não delirava por ele. Sabe-se lá porque, ela não escutava sininhos na hora do beijo e se excitava com Chuck Norris, com o ortopedista da mãe, menos com o noivo tecnicamente perfeito. Passou a culpá-lo por seu mau-humor e frustrações. Estava com o homem dos sonhos de qualquer uma, no entanto, sentia-se perdida. Mas ela esperou 28 anos para que o príncipe aterrissasse. O que pacas a fez surtar? Virou burra? Havia uma fila à espera do carinha...<br /><br />Ahhh, mas enquanto ela matutava a enormidade de sua demência, Paulinho surgiu... Não sabe se de pára-quedas, de debaixo do chão ou de Netuno. Mochileiro, 23, criado por avó, não sabia se trancava a faculdade de Rádio de TV para estudar Arquitetura, a exemplo da irmã um ano mais nova e precocemente próspera, ou se empregava a módica herança deixada pelo pai numa produtora de vídeo. A enfermidade de Maurício – o vira-lata do rapaz – foi quem os apresentou.<br /><br />Paulinho era... A barba por fazer... Mas que voz é essa...? Que Paulinho é esse? Seguinte: meu cachorro tá malzão... Que boca.... Tem três dias que não come! Lindo... Raquel ficou, enfim, com a garganta seca... A paixão rolou! Boom!!! Desejo mútuo, orgasmos múltiplos... Dadinhos do amor, cinta-liga, gargalhadas... Raquel descobriu que sonhar com o tortuoso a fascina.<br /><br />Uma linha de fogo e mistério.... Ele tem preguiça de ler, esquece datas, não entende dos perfumes caros de Raquel e divide a conta do motel, mas ela descobriu que ostentar um marido bem-apessoado, bem-sucedido, bem-feitinho-de-corpo e que deseja ter um casal de filhos porque é bonitinho não é sua praia. Ela não quer excesso de paz. Ela não precisa mais de uma fórmula para viver. Não precisa mais de uma vida de comercial de margarina. De um marido para falar que não ficou encalhada somente pela idéia de que só se é feliz se for do jeitinho que todo mundo é...<br /><br />É sempre assim: enquanto algumas se gabam de um marido (que brocha), mas, no fundo, no fundo, queriam um cafajeste cheio de pegadas e adrenalinas, outras dão pra caramba e, no fundo, no fundo, invejam a tal vida de mulher casada.<br /><br /><strong><em>Myllena Valença<br /></em></strong>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-60340344462765430442007-06-28T17:49:00.001-07:002007-06-29T05:25:07.129-07:00Vou te jogar na cama...Foi-se o tempo em que os homens cantavam ao pé-do-ouvido uma música que deixasse as mulheres de pernas bambas ou as embalasse no compasso durante um velho e delicioso forró. Digo isso porque mais ou menos uns dez anos antes de nascer eu já era forrozeira e posso garantir não há nada melhor do que ouvir clássicos do tipo “vem morena pros meus braços, vem morena, vem dançar, quero ver tu requebrando, quero ver tu requebrar...”, que certos galanteadores já fizeram o favor de transformar em “vem Myllena pros meus braços...” – e olhe que eu caia direitinho na contada...<br /><br />De uns tempos para cá, as sub-músicas só ensinam os rapazes a entoarem pornografias... Com as ofertas que andam circulando por aí, ou melhor, por aqui e acolá, praticamente sonypresentes, comecei a achar que dançar forró deixou de ser coisa de moças de família, passando a consistir em uma prática quase prostitucional! Não consigo entender cenas nas quais casais dançam agarradinhos, de olhos fechados, balbuciando canções do tipo “passe a mão na bunda dela” ou “hoje é cachaça, mulher e gaia”, cujo crédito deve ser abonado com todo louvor à banda-sensação Cavaleiros do Forró, que, inclusive, chegou a ponto de se apresentar no programa da chiquíssima Hebe Camargo, em rede nacional!<br /><br />Bom, vou lhes contar outra experiência pior, mais muito pior do que tudo que imaginei passar na vida de boa dançarina. Um sem-classe – juro que não parecia, tinha carinha de boas procedências - me chamou para uma contradança. Agarrou-me pela cintura, mexeu-se no ritmo certo e... ahhh, infeliz, cantou baixinho para tentar (PORQUE JAMAIS CONSEGUIRIA!) me seduzir: “vou te jogar na cama, vou te deixar toda nua, vou te lamber, vou te morder, safada, você vai ficar tesuda...”. Fiquei P. da vida! Imaginem... Logo eu, uma lady, sendo obrigada a ouvir uma devassidão dessas! Certo que a música tinha essa letra dos diabos e o menino, em parte, nem era tão culpado assim, mas o empurrei e saí cor-ren-do! Urgh!<br /><br />Ah, e os pobres artistas da Globo que vêm para as drilhas (carnaval fora de época fantasiado de forró), em Caruaru, hã? Só recebendo um cachê bem gordo... Morri de vergonha ao ver Fernanda Lima e Marcos Pasquim em pleno trio elétrico se requebrando ao som de “tem que valer, valer, valer na cama, tem que fazer gostoso pro gozo virar lama”. ZULIVRE!<br /><br />Quer constrangimento pior? Quando trabalhei em certa assessoria de imprensa, fui incumbida de acompanhar uma equipe da TV Canção Nova. Católicos fervorosos, a repórter, a produtora e o cinegrafista ficaram chocados, perplexos, estupefatos ao ouvirem uma banda testando o som no palco principal do Parque de Eventos, pólo de animação da cidade, durante o são João. Não menos de quatro vezes, tocaram: “Ô, mulher roleira; ô, mulher roleira”. Rezei para ser transformada em um mosquito e sair voando para beeem longe e não ter que encarar novamente nenhum deles. Tentei a mágica de Chapolin, mentalizando o <strong>PARANGARICUTIRIMIHUARO</strong>!, mas não deu certo, droga, não deu certo! Eu tinha de ser rápida, precisava fazer algo para dispersar a equipe, que se olhava como quem queria comentar a situação. E eu: “Vocês viram a cotação do dólar hoje? Ta calor, né?”. Ai, Deus, nada adiantou.<br /><br />Mas o pior de tudo foi o dissabor de presenciar uma mulher completamente bêbada brigando por um espaço, em meio à multidão das drilhas, para mostrar a coreografia de “dança da minhoca” (clássico de Saia Rodada tocado no Domingão do Faustão). A moça não teve o menor acanhamento em pôr uma das mãos no chão – enquanto segurava uma lata de cerveja com a outra – e subir e descer o traseiro repetitivas vezes! Ô, tadinha... Vamos dar um desconto... Foi tomada por um surto alcoólico, oras...<br /><br />Já tentei imaginar o que leva um pseudo-artista a compor certas letras. Talvez eles tentem (sem sucesso) acompanhar os preceitos da arte conceitual, aquela que considera a idéia, o conceito por trás de uma obra artística como sendo superior ao próprio resultado final, que pode ser dispensável – e o é!<br /><br /> <strong>Myllena Valença</strong><br /><br /><br /><br /><br /><em><strong>Ver dança da minhoca em:</strong> http://br.youtube.com/watch?v=uCSr9QZL76g&mode=related&search=</em>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-4662512362726293652007-06-12T19:31:00.000-07:002007-06-12T19:33:58.075-07:00E foi assim que aprendi...Me chamo Alba e estou feliz por ter chegado, por milagre, aos 40 anos. Quero que vejam minha história como uma forte lição de vida. Nasci e fui criada na roça, no município de Serrita, no Sertão pernambucano. As circunstâncias me tiraram daquela cidade quando eu tinha três anos. Primeiro, porque minha mãe, Blanca, faleceu no dia do meu aniversário de um ano. Depois, porque meu pai, uma alma covarde, acabou fugindo, acossado pela própria covardia, desamparando a mim e aos meus irmãos. Éramos cinco irmãos. Cada um com um pai diferente. O fato de mamãe nunca ter se casado obrigou cada um de nós a ser levado para um destino diferente.<br /><br />Dizem que sou fruto de um milagre, pois minha mãe chegou a tentar interromper a gravidez. Entendo suas razões. Queria ter evitado que mais uma de suas crianças fosse posta no Mundo para sofrer. Ela era enferma. Tinhas problemas no coração. Enfartou quando foi expulsa do seu miserável emprego. Morávamos todos no quartinho dos fundos, cedido a duras penas pelo proprietário da Fazenda Esperança. Saímos de lá por causa da mulher dele, uma senhora esquizofrênica que passou a ter ciúmes da esplêndida beleza de minha mãe.<br /><br />Mamãe tinha cabelos verdes e longos. Seu corpo não fora deflorado pelas gestações. Teve todos os homens aos seus pés, mas o excesso de ingenuidade sempre a fazia cair nas garras de um mau caráter que a abandonou.<br /><br />Minha avó, Nívea, tinha a mesma doença de mamãe e já havia perdido o marido, um prestamista trinta anos mais velho que ela, assassinado a pedradas ao tentar cobrar uma dívida a um cangaceiro.<br /><br />Minha avó só soube da notícia dois dias depois do crime, quando o cangaceiro resolveu deixar o cadáver na porta da casa dela. Meu avô estava revestido em uma lona preta. Por cima dele, uma carta quase indecifrável relatava o profundo arrependimento daquele homem da caatinga. Dentro do envelope, uma ínfima quantia em dinheiro foi seu único consolo na viuvez. Minha avó não agüentou o fim trágico do marido e da única filha.<br /><br />Depois disso, algumas famílias da região se compadeceram de mim e de meus irmãos. Nunca mais revi nenhum deles. Fiquei sob os cuidados de Dona Tonha, uma lavadeira que tirou longas férias depois de que completei oito anos. “Estou velha. Se quiser comer, tem que trabalhar”, resmungava. Mas o irmão dela passou tomar conta de mim. Dava-me tudo. Em troca, eu somente fazia seu jantar, lavava e passava suas roupas.<br /><br />Os anos se passaram e eu era destaque no colégio de freiras, cuja mensalidade era paga por ele. Eu sonhava em ser professora. Meu tio, tão sonhador quanto eu, que foi durante anos meu pai e melhor amigo, planejava meu ingresso na melhor universidade da Capital. Ele era o único a me defender das maldades de Tonha, a quem nunca chamei de mãe.<br /><br />Mas uma vez fui surpreendida no meio da noite pela violência do meu tio. Havia sido tomado pela embriaguez e por uma força diabólica. Tonha atribuiu a mim a fuga do irmão naquela tarde de verão escaldante. Sabia da paixão que ele mantinha enrustida. Disse que fui ingrata aos anos de dedicação dele. Que não entendia como eu dispensara tamanha bondade. Não sabia ela a forma violenta que ele tomara meu corpo, fugindo logo depois, para todo o sempre e nunca mais.<br /><br />Somente vinte e cinco anos após o ocorrido é que voltei a falar. Preferi fechar-me para todos como meio de proteção - ou de vingança.<br /><br />Em quatro anos, serei professora de Literatura, foi a primeira frase que balbuciei após os longos anos em silêncio. Fiquei muda em decorrência do trauma. Optei por me enclausurar neste minúsculo quarto de paredes mofadas. Habituei-me a viver trancafiada, limitando-me a ler e reler livros velhos e usados, comprados com o aluguel da garagem que Tonha deixou de herança. Estou derramando, hoje, as primeiras lágrimas de felicidade de toda minha vida. Passei no vestibular e vou ingressar na faculdade.<br /><br /><strong>Myllena Valença</strong>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-22172065103383473232007-05-16T13:00:00.000-07:002007-05-17T13:51:56.293-07:00Na Casa das Sete MulheresAssim que cheguei, não sabia com quem falar primeiro. Sobre qual assunto discorreria. Se seria mais séria, para aparentar responsabilidade, ou mais descontraída, para dar um ar de alegria à casa. Optei por deixar pra lá as interpretações - acabei sendo eu mesma. Eu era a mais nova da turma. “Pirralha”, começando a vida, aprendendo a ter responsabilidades. Cheguei depois de penar com outras criaturas sequeladas. A falta de casa, da família, deixou-me apavorada na época. Mas, naquela casa, encontraria apoio - pensei. Era meio imatura para enfrentar uma nova vida, uma cidade que, apesar de pequena, de interior, não havia conhecidos meus - mas eu queria (definitivamente) ser jornalista.<br /><br />Apareceu a vaga no apartamento. Eu não poderia desperdiçar a chance. A proposta era dividir a casa com seis meninas e o quarto com mais quatro. Seria ‘A Casa das Sete Mulheres’. Parece muito? No início, também pensei assim. Mas ali viveria um dos melhores anos de minha vida, numa rotina nada desgastante. Nascia, portanto, uma grande - e linda - amizade.<br /><br />Tudo era metodicamente dividido: sete mulheres, sete dias da semana. Então, mãos à obra! Na porta da geladeira havia tabelas para tudo: era dia de jogar lixo, lavar pratos, fazer faxina, lavar banheiro, geladeira e fogão, varrer a casa. O esquema teria tudo para dar certo, não fossem as desculpas nada convincentes de cada uma:<br /><br />- É que trabalhei muito hoje...<br />- Que enxaqueca...<br />- Tenho prova, vou estudar!<br />- Eita... Num é que eu esqueci!<br /><br />E a casa ficava à espera de uma pobre criatura que amanhecesse com disposição para dar conta de tudo e deixar a casa limpinha e cheirosa! Para resolver o problema, tentamos de tudo: reuniões semanais, nas quais eu ficava só olhando, absorta com as diferenças entre cada uma daquelas mulheres. Havia evangélica-abelhuda, atéia-intelectual, palhaça-estressada, boazinha-abusada e dondoca-esforçada. Um mix que fazia daquele lar o mais excêntrico que já conheci!<br /><br />Decidimos fazer até mesmo uma eleição que aclamaria a ‘líder da semana’. Essa ficaria no pé das outras lembrando de cada tarefa - como se as regras do BBB pudessem mesmo ser aplicadas à nossa tosca realidade.<br /><br />Depois das reuniões, a casa ficava impecável (por alguns dias, mas só por alguns dias...). Aí começava tuuuuudo de novo. Confesso que minhas amigas eram muito engraçadas. Quem mais falava era a mais meiga da casa, que vociferava inconformada, mas nunca causava receio. Daí entrava outra, uma ‘desbocada’, completamente louca, que dava uns dois ou três gritos, chamava uns palavrões e encaminhava as deliberações dos dias seguintes. Daí, se todas concordassem, o martelo era batido e não se falava mais nisso – por pouquíssimo tempo, claro!<br /><br />A cumplicidade era nossa principal característica. Lembro quando, depois de uma rigorosa e longa triagem, fui a única selecionada para um estágio. As meninas choraram de felicidade. Também lembro como todas conseguiam odiar, junto comigo, meu chefe carrasco; torcer para que meus amores dessem certo. Quando adoeci, todas sentaram ao redor de minha cama para cuidar de mim. E riam de qualquer coisa que eu fizesse ou falasse, comparando-me a Vani, de Os Normais (vê se pode? Fudeu!Fudeu!Fudeu!).<br /><br />Ainda liam todas as minhas crônicas - e sem reclamar, viu? De madrugada, a primeira que ouvisse os gemidos da vizinha durante o sexo, acordaria as outras para mandar a mulher fazer silêncio imediatamente - só para sacanear mesmo.<br /><br />Com a conclusão do curso de Direito, cada uma tomou um rumo diferente. Fiquei sem chão. Órfã.<br /><br />O tempo passou e morei com outras colegas. Mas nunca será igual. Nunca terá a magia de antes...<br /><br /><br /><strong>Myllena Valença</strong>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-72853146892799591162007-05-14T19:22:00.000-07:002007-05-14T19:22:07.588-07:00Cacoetes: Saindo de cena<a href="http://cacoetes.blogspot.com/2007/04/saindo-de-cena.html">Cacoetes: Saindo de cena</a>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-34988118869748363842007-05-14T18:13:00.000-07:002007-05-14T18:56:53.796-07:00I Coríntios 13Me chamo José Galdino Filho e hoje é um dia bastante especial para mim, mas creio que só para mim. Hoje, cinco de janeiro, é meu aniversário. De minha família tudo que recebi foi um telefonema. Minha filha querida nunca esquece. Bem que ela gostaria de estar comigo para comemorarmos, mas a passagem de Salvador a Belo Jardim é muito cara e ela não pode ter despesas extras. Mas não me importo muito com família. Pelo menos foi essa idéia que fitei para conviver com a rejeição. E para não pensar muito nisso, sempre procurei me ocupar; trabalhei muito para manter a cabeça tranqüila (...).<br /><br />Aos 20 anos, arrumei um emprego na cidade de Ribeirão-PE, onde trabalhei por cinco anos com carpintaria. Tornei-me homem feito. Na mesma época, tocava saxofone em casamentos, aniversários, batizados, enfim, em todas as festas para as quais era convidado. Tocar era o que de melhor eu sabia fazer. Eu respirava música. Fui maestro e professor dessa arte. Por meio dela, conquistei vários títulos, medalhas e troféus, que guardo com esmero até hoje. Fiquei conhecido em vários estados do Nordeste.<br /><br />Bom, aos 27 anos fui morar em Sanharó, também em Pernambuco. Em seguida, casei-me com *Versulina Oliveira, uma mulher charmosa, seis anos mais velha que eu. Ela era inteligente e trabalhadora. Todavia, um mal infame nos separava: o cigarro. O sol mal aparecia e ela já estava perambulando pela casa, arrastando um chinelo velho, com aquele “troço” na boca. Onde ela estava, uma fuligem a acompanhava. Ao anoitecer, eu ia dormir e ela ficava sozinha na varanda, fumando até a dor na garganta falar mais alto. Um dia, tomei uma decisão muito séria e falei para ela: ou eu ou o cigarro! Brigamos muito por causa disso. Nem dormir ao seu lado eu conseguia mais. Mudei-me para outro quarto. Ela ficou atônita, tentou explicar que o vício era mais forte do que ela, mas continuei irredutível. Ela não ouvia meus conselhos; eu dizia que o cigarro fazia muito mal, mas a mulher era teimosa como uma mula, o que me deixava furioso. A situação perdurou vários anos.<br /><br />Um dia, cansado de “arranca-rabos”, resolvi fazer as pazes com Versulina. Meu repúdio fora vencido pela nicotina. Durante o período de brigas e separação me veio à tona um sentimento surpreendente: recordações de um amor do passado - que viria a concretizar-se mais tarde - deixaram-me inquieto.<br /><br />Em 1997, minha mulher foi tragada por uma doença funesta. O vício de uma vida inteira suscitou num câncer de esôfago. Versulina foi definhando e não resistiu. Nosso casamento durou 50 anos. Tivemos 12 filhos, mas a maioria morreu na infância. Não sei o porquê. Acho que era uma epidemia que atacava as criancinhas e, naquele tempo, a Medicina era inacessível para nós. Foi traumático para mim e para minha esposa, que já havia sofrido um aborto. Restaram apenas três homens (que nunca vieram me visitar) e uma mulher, a minha filha querida. Também tivemos netos e alguns bisnetos que nunca conheci.<br /><br />Depois que Versulina se foi, senti-me só no mundo. Um velho inútil, sem anseios. Como não tinha mais quem cuidasse de mim, decidi procurar um asilo. Tive muito medo. Medo do desconhecido, de morrer de tristeza e tédio, medo da solidão. Em 1999, aos 79 anos, fui morar no Lar Espírita Bezerra de Menezes, na cidade de Belo Jardim - PE.<br /><br />Assim que cheguei, cabisbaixo, com o coração acelerado e suando frio, tive uma visão que me deixou inerte. Minha respiração ficou suspensa por alguns segundos. Sentada numa cadeira de balanço, observando-me atenta e curiosamente, estava *Naíra, a mulher mais bela que já conheci. Quando eu era menino, conheci Naíra lá em Recife. Namorávamos escondidos. O pai dela era coronel, tinha fama de brabo. Eu morria de medo dele. Na época, o coronel perseguia Lampião, vê se eu iria me atrever a enfrentá-lo! Nunca! Fui morar em Garanhuns e ela em outra cidade do interior.<br /><br />Depois de casado, encontrei-a uma ou duas vezes, mas nosso amor era impossível, afinal, nossas vidas haviam tomado rumos diferentes. Nunca a esqueci e quando me separei de Versulina, por causa do cigarro, prometi a mim mesmo que não poderia morrer sem antes beijar a Naíra novamente. Fiquei obstinado a isso. Quando a vi no Lar senti uma felicidade instantânea e um passe de mágica renovou as minhas forças. Tornei-me um menino novamente. Eu parecia um súdito diante de uma esplêndida rainha. Ao seu lado, percebi que o sentimento era recíproco. Eu jamais seria o mesmo homem. Começamos a namorar sério.<br /><br />Naíra era uma mulher vistosa, doce e delicada. Tinha voz suave, cheiro de calêndula e o mesmo olhar de quando criança. Ela me dava amor, atenção e carinho. Conversávamos sobre tudo e riamos muito. Pensei que o asilo me tornaria uma pessoa sorumbática e vazia, mas o destino reservou-me esta surpresa divina. Através de Naíra, vivi os melhores momentos de minha existência. Alguns meses se passaram e resolvemos sair do asilo para morar juntos em nossa própria casa. Queríamos ter privacidade e fomos para Sanharó. Com sacrifício, compramos tudo que os recém casados têm direito - ela teve enxoval completo e tudo. Vivemos um sonho, tudo era perfeito. Eu cuidava dela e ela de mim.<br /><br />Mas esse sonho durou apenas 16 meses. Com um rasgo de crueldade a morte levou embora o meu primeiro e grande amor. Mais uma vez fiquei sem chão. Senti-me impotente. Foi tudo muito rápido. Depois de comer um almoço requentado ela passou mal, sentiu dores na barriga e calafrios. Foi levada ao hospital e logo faleceu. Maldita comida requentada, só pode ter sido isso.<br /><br />Quando meus ânimos se acalmaram voltei para o Lar Espírita. Todos me receberam de braços abertos. Sou bem tratado. Somos uma grande família. Hoje, no meu aniversário, não parei de pensar em Naíra um só segundo. À noite, sei que vou sonhar com ela. Tenho na mão esquerda um anel que ela me deu. Fez-me jurar que jamais o tiraria do dedo. Chego a passar horas olhando para essa relíquia. Aprendi com Naíra que nunca devemos desistir do amor. Esse sentimento sublime independe da idade. Aprendi ainda que a felicidade realmente existe.<br /><br />E sabe aquela passagem bíblica que há em I Coríntios 13? Ela diz que “ainda que eu falasse as línguas, a dos homens e dos anjos, sem amor, eu nada seria”. A Naíra aplicou a palavra de Deus em minha vida. Então, em vez de lamentar sua morte, agradeço a Deus por ter sido jovem aos 79 anos de idade e de ter provado o sabor de uma paixão arrebatadora.<br /><br />Sinto falta do beijo dela, de seu abraço, de seus pezinhos gelados esquentando-se nos meus nas noites do único inverno que passamos juntos. Às vezes, consigo ficar embriagado com a lembrança daquele cheirinho de calêndula. Nosso amor foi tão intenso que sua presença é concreta em minha vida. A saudade me corrói, porém, no lugar do choro estão as boas recordações. Ainda há resquícios de jovialidade em mim. E hoje, perto do fim de minha vida, aprendi: duas almas não se encontram por acaso.<br /><br /><br /><strong>Myllena Valença</strong><br /><strong></strong><br /><strong></strong><br /><em>*Nome fictício</em><br /><em>*Texto originalmente publicado no livro 'Me Conte a Sua História'.</em>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-66631527628006412822007-05-04T06:19:00.000-07:002007-05-14T18:10:38.935-07:00Mistério arrebatado<a href="http://1.bp.blogspot.com/_4GZyLnjnGno/Rj6yYuuSuLI/AAAAAAAAABs/JugWdpddmSE/s1600-h/carta+align=right.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5061679169139816626" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 168px" height="171" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_4GZyLnjnGno/Rj6yYuuSuLI/AAAAAAAAABs/JugWdpddmSE/s200/carta+align%3Dright.jpg" width="200" border="0" /></a> Não havia motivos suficientes para que Arnaldo acordasse disposto a cuidar ao menos sua higiene matinal. As dores de cabeça começavam assim que ele saltava da cama e abandonava seu lençol xadrez, ainda quentinho e revestido de ácaros, amontoados há quase dois meses. Os poucos móveis da casa eram oriundos de seu primeiro casamento, que teve fim após a descoberta de uma infidelidade. A mulher de sua vida, à época, o traia com o primo dela, um treinador de jiu-jitsu, oito anos mais novo. Professor universitário, de uma faculdade renomada, Arnaldo era o tipo de mestre distante, que viajava nas aulas de Filosofia e deixava os alunos absortos, não somente pelo teor das obras dos gloriosos pensadores que citava, mas pelas suas roupas de comunista desbotadas e pelo invariável par de tênis sujo, revestido por uma mancha, provavelmente vinda de alguma sopa que ele deixara escapar do prato, e que mudava de cor a cada aula. <div><br /><br /><p><br />Entre os demais professores, ele raramente era percebido. Chegava sempre atrasado e saia quinze minutos mais cedo. No ponto do ônibus, por distração, perdia a condução uma, duas vezes, chegava a ficar sozinho na rua. Aproveitava o tempo para sorver deliciosamente cada um seus cigarros. Em casa, ficava até a madrugada lendo Trotsky, Lênin, embriagado mais pela solidão e amargura que pelos copos de uísque.</p><br /><br /><p><br />Arnaldo não percebia, mas Ana - uma aluna aplicada, que tinha crises depressivas quando tirava menos que dez nas provas mais temidas pela turma - era a única a notar sua presença. Evangélica e extremamente acanhada, ela só usava saias na altura do joelho. Sua debilidade, desalento e alarmante brancura lhe davam uma forte característica adoentada. Ao contrário da maioria dos CDFs, sentava-se na última carteira da sala. Fazia segunda chamada, mas não encarava a apresentação de um seminário. Tudo para não chamar atenção. Estremecia ao imaginar que, por ventura, as atenções fossem dedicadas a ela.</p><br /><br /><p><br />Somente no segundo ano da faculdade Ana resolveu soltar a voz. Suave, baixa, nasal, tartamuda, teceu o primeiro comentário de sua vida para uma platéia tão grande. Habituou-se a fazer estudos bíblicos todas as noites com seu pai, um viúvo-taxista-aposentado, e somente com ele conseguia se soltar mais um pouco. A garota gerou polêmica ao discordar do único professor que jamais havia sido contestado. Ele nunca admitiu críticas. Estudantes eram criaturas sub-humanas e não teriam propriedade suficiente para discutir tête-à-tête com ele. Arnaldo retrucou com criticas ácidas. Menina tola. Quem ela pensa que é para me interpelar? Professor estúpido. Quem ele pensa que é para dirigir-se a mim com tantas injúrias?<br /><br />Ana saiu aos prantos corredores afora. A própria frieza não impediu Arnaldo de dar continuidade à lição com ares de superioridade a qualquer tipo de intervenção ou opiniões opostas da turma.<br /><br />Entretanto, aquela noite foi cruel para Arnaldo. Pensou em pedir desculpas a Ana na noite seguinte. Fumou dois maços de cigarros. Desta vez, misturou vodca a outras bebidas destiladas.<br /><br />Ana havia escrito uma carta para o professor. Mas o envelope nunca chegou às mãos dele. Ela iria entregar após aquela aula, que fatalmente terminou em puro constrangimento. Na manhã do dia seguinte, a dor de cabeça de Arnaldo foi agravada pela notícia de destaque na rádio local. A menina fora morta por um assaltante, enquanto esperava que o pai lhe apanhasse. No conteúdo da carta, o amor platônico comedido pelo fundamentalismo do pai. Aquela jovem, apesar de pura, estava grávida de desejo. O mistério de seus pensamentos pecaminosos jamais foi revelado. Sua lascívia, juntamente com sua vida, acabou sendo arrebatada por forças superiores.<br /><br /><strong>Myllena Valença</strong><br /></p><br /><br /><div></div></div>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-53424292803130724562007-05-04T05:53:00.000-07:002007-05-04T06:12:20.203-07:00Viva a sensatez de Juninho Pernambucano!Podem me chamar de louca, antipatriota ou me adjetivar ao seu modo discordante. Mas sinceramente nunca vi a Copa do Mundo como um acontecimento que mereça tanta paralisação. Minha gente, por favor! Um evento esportivo capaz de modificar a rotina do Mundo, os horários de trabalho. Certo que a economia e o turismo ganham muito com o feito, e tals, mas vejam um exemplo que me deixou absorta: um conhecido meu, juiz de Direito, pediu a tabela dos jogos à secretária dele para saber se deveria ou não marcar uma importante audiência – pelo menos para o pobre cidadão que esperava há meses a solução para sua causa. Absurdo! Mil vezes absurdo! Por que, então, o mundo não parou os trabalhos para assistir ao 11 de setembro? Ou por que não será decretado feriado mundial no dia do julgamento de Suzane von Richthofen? <br /><br />E tem mais: cogita-se que o salário da apresentadora Adriane Galisteu é de R$ 500 mil, vale duas Ana Paula Padrão. O gordo salário da apresentadora global Angélica, parece-me, passa dos R$ 350 mil. A top Ana Hickmann ganha R$ 5 milhões por ano. Pff! Diferenças revoltantes, pois Deus sabe o quanto a jornalista trabalhou seus neurônios e as madrugadas que teve de abandonar o sono para informar com responsabilidade. Pior que isso? Um salário de um jogador de futebol. PQP! Já trabalhei 40 horas seguidas para cumprir minhas pautas em três estágios. Não queiram saber o quanto ganhei – vergonhoso, e infinitamente desproporcional às horinhas de treino e remuneração do jogador Ronaldo. E nada de zombarias do tipo “Ah, não queira se equiparar a um fenômeno”. Igualo-me, sim. Não vejo distinções profissionais. Todos têm sua função social. <br /><br />Tenho uma professora doutoranda. Não tem ninguém próximo a mim que estude mais do que ela! Caso isolado ou não, seu salário não passa dos R$ 5 mil, e em dois empregos. Já o craque Ronaldinho Gaúcho, o mais valioso no mercado do futebol, tem um passe de R$ 133 milhões. Ronaldinho também encabeça a lista dos jogadores que mais faturam durante o ano. Ao todo, o brasileiro soma nada menos que 23 milhões de euros. Desculpem, mas não consigo achar isso normal. Acredito que o conhecimento é muito, mas muito mais importante que o dinheiro, mas não consigo entender o porquê da disparidade salarial entre os que superam os limites do corpo e os que superam os limites da mente! <br /><br />Taí, mas até que alguém do meio falou algo sensato a respeito disso tudo: “Futebol é o esporte coletivo mais individual que existe” - Juninho Pernambucano.<br /><br /><strong>Myllena Valença</strong><br /><strong></strong><br /><strong>*Publicada originalmente em <a href="http://www.mimeographo.blogspot.com">www.mimeographo.blogspot.com</a>, em junho de 2006</strong>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8385976606033194063.post-27592789540166315552007-05-02T13:44:00.001-07:002007-05-02T13:44:49.514-07:00Ó, dúvida cruel!Fazer a coisa errada sabendo que estou fazendo a coisa errada? Ou fazer a coisa certa e ficar com o coração do tamanho de uma uva-passa?<br />Mas se fizer a coisa errada, também ficarei com o coração miúdo. Porque terei de mentir.<br />E a mentira brinca de montar na ‘cacunda’.<br />É gorda, pesada.<br />Ela anda de mãos dadas com o remorso.<br />E só vai embora se eu fingir ter memória curta.<br />Mas esse fingimento me faria esquecer o motivo que me levou a fazer a coisa errada.<br />Esse erro, especialmente esse erro, chamo de burrice sentimental. Faz bem ao corpo. Mas corrói a alma.<br />Já sentiu dor na alma?<br />Eu já!<br />Toda vez que cometo esses desacertos.<br />E também quando não tenho a oportunidade de cometê-los.<br />Ó, dúvida cruel.<br /><br /><strong>Myllena Valença</strong>Myllenahttp://www.blogger.com/profile/05592798528841982963noreply@blogger.com0